Dimensão ética dos cuidados de enfermagem : contributo para o estudo da formação "ético-profissional" de estudantes de enfermagem ao nível do bacharelato

Dissertação de Mestrado em Ciências da Educação (Área de Especialização: Análise e Organização do Ensino), apresentada à Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Lisboa, 1997O presente trabalho é um estudo exploratório que nasce da necessidade da compreensão da problemática da formação dos estudantes de enfermagem para um agir responsável que salvaguarde a dimensão ética dos cuidados de enfermagem. A escolha do domínio, a construção de questões e dos instrumentos de pesquisa, têm "a marca do vivido", como mencionado por FERRY (1984). Ao reflectir sobre a nossa prática ao longo de todo o percurso profissional, quer na prestação directa de cuidados, quer na gestão, quer na docência, há questões que nos têm acompanhado sempre, reequacionadas tão somente pelo ângulo de visão imposto pelos diferentes contextos e funções. São elas: as questões ligadas à natureza dos cuidados de enfermagem, o peso da sua dimensão ética, a responsabilidade ética no agir profissional, a formação, ou melhor o modelo de formação que capacite os futuros profissionais a "estarem à altura das situações que se lhes deparam" (MALRUSE). Partimos do pressuposto que a enfermagem é uma profissão de ajuda, cuja função primordial é o cuidar o homem, família e comunidade, visando em particular o conforto, o bem estar e a segurança da pessoa na sua circunstância e que o desempenho do profissional, assenta na responsabilidade profissional que se fundamenta em competências a nível do saber, a nível ético / deontológico e a nível legal. Porque e enfermagem é uma profissão de ajuda o cuidar em enfermagem só pode ter um sentido positivo, mas o seu exercício tem lugar em contextos tão variados como aqueles em que o homem nasce, vive e morre, contextos esses onde se entrecruzam poderes e saberes que constroem universos simbólicos, organizam crenças e sistemas de valores que constituem o suporte ideológico de estratégias funcionais que são um dos fundamentos da construção da identidade profissional, (CARAPINHEIRO, G. 1984). Para ser "bom profissional de enfermagem" parece ser imperativo o desenvolvimento do julgamento profissional olhado como competência, porque na prestação de cuidados a tomada de decisão situa-se no mundo do contingente, o mundo das relações humanas. Ao julgamento profissional estão inerentes questões de ordem não só técnica mas também de ordem moral, acompanhadas sempre pela questão da verdade. O julgamento depende não só do objecto mas também de quem julga e a decisão não está definida em lugar algum e uma vez tomada, muda o sentido das coisas, envolve e compromete quem o faz. REBOUL, (1992). O julgamento emerge do interior das situações, assim sendo as intervenções não podem ser pré-determinadas porque estão dependentes da pessoa em si mesma, do modo como vive a situação, da situação e das circunstâncias, num processo que não é estático, mas sim dinâmico. (...